Uma viagem ao exterior, em boa companhia só acrescenta. Viajar amplia o olhar e faz feliz. Entre nossos comentários à noite, no quarto do hotel, sobre as maravilhas que víamos e ouvíamos durante o dia, infiltravam-se histórias das nossas famílias. Invadiam, desconfio, só para assegurar nossa identidade, para garantir nosso retorno, principalmente porque estávamos tão longe da nossa cultura, dos nossos e totalmente subjugadas à beleza do lugar.
Um passeio pela Itália, planejado há tempos, onde conseguimos ver os fortes contrastes entre o norte e o sul desse País maravilhoso. Sua cultura, música, culinária, arquitetura e principalmente sua história gravada na arte dos palácios, dos teatros, das praças, das igrejas, dos monumentos e nas descobertas científicas de seus filhos importantes.
No perfil de seus acidentes geográficos as plantações de oliveiras, uvas e pistache intercaladas com lagos, colinas na Toscana, os vulcões Etna e Vesúvio e o recorte caprichoso da Costa Malfitana que, encosta abaixo e encosta acima, requebra-se nas curvas estreitas, ardilosa com o movimento sedutor da tarântula – como quem dança a tarantela.
A Itália garante a profundidade do horizonte e sua luminosidade intensa, porque encantadora esparrama-se nas águas azuis de seus mares: o Mar Adriático e o Mar Jônico, que a separa da Grécia, o Mar Mediterrâneo, incluindo o Canal de Malta que separa a Sicília de Malta, o Mar Tirreno e o Mar da Ligúria, ambos separando o território peninsular das ilhas da Sicília e Sardenha e da ilha francesa da Córsega. Assim, tão cercada pelas águas deu asas aos sonhos dos navegadores e estimulou a esperança dos imigrantes que saíam do porto de Nápoles para a América
Percorremos as regioni de: Lombardia – Milano, Como, Lago Maggiore, Lago di Como; Veneto – Verona, Padova, Venezia; Emilia Romagna – Bolonha; Toscana – Pisa e Firenze; Umbria – Assisi; Lazio – Roma; Campania – Napoli, Capri, Pompeia, Positano, Praiano, Amalfi, Salerno; Isla Sicilia – Taormina, Catania, Agrigento e Palermo.
As perspectivas de nossa viagem eram fantásticas e foram mesmo. Mesmo chegando a Milão sem a mala. Havia se extraviado em Lisboa (será porque na etiqueta estava meu sobrenome, Coimbra?), a burocracia para registro e denúncia no aeroporto foi terrível e só não foi pior porque Maria do Carmo, minha amiga e irmã de viagem, fala italiano.
Ficamos duas horas tratando dessa papelada com mais dez desafortunados que também sofriam com suas perdas. Enquanto isso, ao lado da esteira, agora desligada, uma fila de outras malas perfiladas – valises órfãs de seus donos – esperavam ser encontradas.
Lembrei do transfer que nos levaria ao hotel, resolvi avisá-lo da situação e solicitar que nos esperasse, enquanto Maria tratava do assunto no balcão em italiano. Saí.
Saí e ao retornar todos os alarmes por onde eu passava apitavam em alto e bom som – fui parar na Polizzia do Aeroporto Internacional de Milão. Depois de muita explicação em português, espanhol e trejeitos italianos por caritá, um belo ragazzo deixou-me entrar novamente e encontrar minha amiga que já assustada, a essa altura, acreditava ter perdido também a companheira de viagem.
Sem a mala fomos para o hotel – Novo Hotel Verdi – muito bom. Mais tarde, fomos jantar e terminamos a noite num restaurante vicino do hotel. Manjamos formaggio, prosciutto, ensalata verde com pomorino, panino d’italia con semente de papola – essa pequena dose de sementinhas nos relaxou um pouco… Voltamos a pé e em segurança. Comigo mesma pensava: cheguei a Milão sem a mala, mas elas geralmente voltam e com a minha não será diferente. Após três dias, foi entregue às 2h30 da madrugada na porta do quarto do hotel. Bagaggio!!!
Ficamos tão felizes que nem notamos a hora e, como em viagem levanta-se cedo por recomendação do guia para cumprir os horários combinados, começamos a nos vestir, rapidamente para sair. Depois de prontas, pintadas e penteadas, com a bolsa organizada, para enfrentar outro dia de excursão, vimos as horas: 3h da manhã. Rindo de nossa atrapalhação, deitamos de novo e dormimos de roupa de passeio e maquiadas. Nada ia abalar a alegria do nosso reencontro. Nada! Afinal, já estávamos na Itália e em plena excursão. Adormeci, abraçada com a mala perdida para espanto da Maria do Carmo.